Por Merlong Solano

Calor em Teresina é lugar comum. Todavia, nos últimos dias a temperatura tem atingido picos que beiram ao insuportável. Mesmo à noite registra-se, no inicio, 39 graus. Procurando amenizar este quadro dantesco o poeta diz, em poema bem humorado que virou música, “o mar de Teresina é o céu da boca das meninas”. Música boa de ouvir e de cantar, mas o calor continua.

Preocupa-me o fato de que o poder público e a sociedade parecem não se dar conta que o calor está se agravando e as respostas têm sido isoladas e individuais, de acordo com o bolso das famílias: ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. Ficamos assim cada vez dependentes de energia elétrica.

Não tenho percebido espaços significativos de discussão do assunto e, o que é pior, noto que a cidade tem feito opções que agravam o calor: a redução de áreas verdes, a manutenção de calçadas estreitas que dificultam a arborização, a generalização da pavimentação asfáltica, sistema de transporte público crescentemente dependente do automóvel e das motos, a manutenção de rede elétrica aérea (que dificulta o plantio de árvores). A partir de 40 graus e de umidade inferior a 30%, especialmente se combinados, como está acontecendo, o ambiente começa a comprometer a saúde das pessoas.

Em que medida o planejamento urbano de Teresina está levando em conta o agravamento do calor? Estamos à véspera da escolha do novo prefeito da capital e não lembro desta questão ter vindo às tona com a devida ênfase.

O poder público precisa estimular este debate e abrir espaço para a valorização de iniciativas que procurem reduzir os vetores que estão potencializando o macroclima de Teresina, que sempre foi quente. Todavia, os espaços de microclima mais amenos estão se reduzindo na medida em que se reduz o verde e em que se aumenta a impermeabilização da cidade, assim como o uso do automóvel.

Os estudiosos do clima e do planejamento urbano também precisam vir a público, refletir o assunto e colocar suas sugestões. Teresina há muito deixou de ser a verdecap: o verde se foi junto com os quintais. Não podemos permitir, impassíveis, que ela marche para o cinza, a cor que fica depois que o fogo e calor fazem a sua obra.