Resultado eleitoral adverso não é fácil de ser digerido e suscita muitas explicações, algumas das quais carregadas de interesses hostis à esquerda, ao PT em particular. Outras explicações pecam pelo excesso de voluntarismo que muitas vezes marca pessoas que defendem mudanças estruturais numa sociedade tão desigual quanto a brasileira.

A eleição deixa clara a dificuldade da extrema direita se estruturar em partidos capazes de disputar com sucesso eleições municipais. Com isso, Bolsonaro é o grande derrotado, inclusive pessoalmente, uma vez que muitos candidatos que adotaram seu nome foram derrotados e seu filho foi reeleito vereador do RJ com quantidade menor de votos.

Ampliação do número de prefeituras e de vereadores do PP, DEM e PSD, dentre outros partidos, mostra uma centro-direita fortalecida em âmbito municipal. Mas isso não implica em automática capacidade de articular um projeto político nacional vitorioso.

Quanto à esquerda, é inegável a redução de seu espaço no comando de prefeituras e nas câmaras. Nesse sentido, sai do pleito também derrotada e com enorme necessidade de rever e atualizar discurso e prática política.

Todavia, há um aspecto que está sendo desconsiderado: 2020 não reproduziu nas mesmas proporções o baque de 2016. Esse fato demonstra que a esquerda continua sendo força política enraizada em diversos segmentos da sociedade, que tem nela um necessário contraponto ao modelo neoliberal advogado pela centro-direita.

Outro fato significativo no âmbito da esquerda é a definição de uma tendência de multipolarização, o que pode ser visto como enfraquecimento de sua principal força, o PT, mas que considero fato muito positivo. Bem trabalhada, uma esquerda multipolar busca o fortalecimento de cada partido no primeiro turno e, se necessário, a união no segundo turno para enfrentar os adversários do Estado Mínimo.

Com seus 183 prefeitos, 2.665 vereadores, cinco governadores, 54 deputados federais, 6 senadores, grande bancada de deputados estaduais, boa capacidade de interlocução com movimentos sociais e sindicais e toda a experiência adquirida no poder executivo, o PT continua sendo a principal força de esquerda do País. Não está, todavia, em berço esplêndido e precisa agir como força facilitadora da elaboração de projeto político capaz de integrar a esquerda multipolarizada e ainda as forças democráticas e progressistas.

Naturalmente, a integração acima referida pressupõe a preservação da autonomia e independência de todos os partidos. Esse é o espírito da democracia e da legislação que consagrou a eleição em dois turnos. Os objetivos principais são: reconstruir a capacidade de fazer a economia crescer distribuindo renda e fortalecer a democracia, fazendo a extrema direita voltar aos guetos de ódio de onde saiu em 2018.

Merlong Solano
Deputado Federal PT/PI

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