Ultrapassamos a marca de 92 mil pessoas mortas pela Covid-19 no Brasil. Logo chegaremos a 100 mil mortos. E, nesse ritmo, de uma média superior a mil óbitos por dia, ainda em agosto lamentaremos mais de 120 mil mortos.

Enquanto o País escala esse calvário, o Governo Bolsonaro manifesta em atos e palavras sua total falta de compromisso com a vida, atitude muito coerente para quem acredita tanto nas armas.

Ao longo desses meses, Bolsonaro passeou de jet ski, foi a churrasco, andou sem máscara, promoveu propaganda da cloroquina, fez tudo que pôde contra o isolamento social e tratou o drama humano com desdém e frases do tipo: “E daí, todo mundo morre!”, “Quer que faça o quê?”.

De fato, todo mundo morre, mas a Humanidade persegue o objetivo da vida com dignidade ao longo de toda a sua caminhada, sempre buscando retardar o retorno final à mãe natureza e conciliar o espírito com a verdade inexorável de que a morte um dia virá.

Quem governa um país, todavia, assume perante a nação o compromisso e a obrigação de trabalhar pela melhoria da vida de todas as pessoas e de tratar a morte com respeito e humanidade.

Não é o que assistimos por parte do chefe de um governo que em plena pandemia deixa o Ministério da Saúde sem ministro efetivo. Estamos numa guerra contra um inimigo invisível, atuando sem plano e sem comando centralizado, pois o planejamento, a articulação e a realização de ações conjuntas são justamente as principais atribuições do Ministério da Saúde.

Os resultados dessa acefalia estão agravando os efeitos nefastos da pandemia. O Brasil é um dos países que menos realiza testes para identificar a contaminação pelo coronavírus; sofre com a falta de equipamentos e com o desabastecimento de insumos vitais para o funcionamento das UTIs.

Enquanto diversos países do mundo concentraram esforços para construir alternativas conjuntas, aqui vimos autoridades do Ministério da Saúde lavarem as mãos e dizerem que a atribuição de comprar insumos e remédios é dos estados e municípios, sem considerar o fato determinante de que a indústria farmacêutica não consegue entregar os pedidos no ritmo necessário e que uma ação conjunta, articulada pelo governo federal, poderia apresentar soluções mais fáceis, até em escala internacional.

Enquanto em outros países presidentes se mobilizaram e chamaram a indústria para um “esforço de guerra” no sentido da reconversão de parte de suas plantas para a produção de equipamentos de enfrentamento às repercussões do coronavírus, aqui vimos apenas Bolsonaro mandar produzir cloroquina em larga escala e estimular a automedicação, desconsiderando os grandes riscos de efeitos colaterais e os alertas da OMS de que esse remédio não tem eficácia comprovada contra a Covid.

Em resumo: inépcia governamental, boicote a medidas de prevenção, como o isolamento social e o uso de máscara, conferem ao presidente o título de sabotador do combate à Covid-19. O que mais Bolsonaro terá que fazer para ser enquadrado em crime de responsabilidade?

Merlong Solano

Deputado Federal PT/PI