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Alentadora a pesquisa do Data Folha que mostra o apoio de 75% da população à democracia.

A memória da última ditadura é marcada por um processo de modernização conservadora. Inegavelmente, o Brasil investiu em infraestrutura (estradas, telecomunicações, energia) e tentou ampliar a industrialização, mas fez isso agravando a pior marca de nossa estrutura social: a concentração de renda e de riqueza.

A aceleração da urbanização, que alguns tomam como modernização, tem como contraface o aumento da concentração da terra no campo e o aumento do êxodo rural e, nas cidades, a favelização e abundante oferta de mão de obra barata para a indústria e também para a violência. Além disso, foram solenemente descumpridas as promessas de combate à corrupção e de controle da inflação. A ditadura não implantou qualquer instrumento de combate à corrupção e, incentivando-a, estabeleceu forte censura sobre a imprensa.

Quanto ao índice oficial de inflação, o IPCA de 79,92%, em 1963, foi uma das justificativas para o golpe e para a ditadura. Ao final, já em seus estertores, em 1984, a tecnocracia autoritária entregou ao País um IPCA de 215,27%.

A defesa da democracia não deve, todavia, sinalizar uma idealização desse regime como sendo algo concluído. Longe disso, precisamos aprofundar e aperfeiçoar nossa democracia para além dos direitos formais do voto e da representação, que devem ser complementados por mecanismos de participação direta, como referendos e plebiscitos.

No campos social e cultural, nossa democracia precisa responder a demandas acumuladas com maior eficiência, tais como: geração de empregos e incentivo ao empreendedorismo, distribuição de renda, defesa radical das liberdades individuais (nos limites legais) e do respeito à diversidade.

Merlong Solano

Professor da UFPI / Secretário de Administração do Estado do Piauí