Com enormes dificuldades de encontrar uma mensagem que encontre respaldo junto à população brasileira, a oposição tradicional e os poderosos grupos econômicos que controlam a grande mídia investem na mentira como instrumento de política. A bola da vez é a crítica desmedida ao financiamento concedido pelo BNDES à construção do Porto de Mariel em Cuba. Querem fazer crer que os problemas de infraestrutura existentes no Brasil decorrem da falta de prioridade do governo, que estaria preferindo aplicar recursos em Cuba.

Para atingir seus objetivos, omitem e mentem. Omitem o fato fundamental de que se trata de uma operação de crédito realizada pelo BNDES, banco de investimento de longo prazo fundamental para o Brasil (aqui e no exterior), que aliás eles queriam ver privatizado. Sendo operação de crédito, o débito será resgatado pelo banco conforme contrato assinado pelas empresas que solicitaram o recurso. O Banco receberá, portanto, o principal e os juros previstos em contrato. Omitem também o fato de que empresas brasileiras construíram o porto e mais ainda, “esquecem” também de dizer que dos 957 milhões de dólares aplicados na construção do porto, 802 milhões foram gastos na compra de bens e serviços comprovadamente brasileiros, gerando assim empregos e renda no Brasil.

Com o objetivo mesquinho de confundir a opinião pública cometem verdadeiras piruetas mentais para negar o acerto da política externa praticada pelo Brasil desde o governo Lula. Antes, em governos passados, se considerava que o que era bom para os Estados Unidos era bom para o Brasil; por isto sucessivos governos se curvaram às missões do FMI que impunham política econômica de desemprego e juros altos: corte nos investimentos públicos, aumento do superávit primário, aumento dos juros e dos impostos, desemprego e incentivo à centralização do capital por meio da aquisição barata de empresas brasileiras em dificuldade por grandes grupos econômicos (do Brasil ou do exterior).

A partir de Lula e Dilma, a política externa do Brasil passou a ser independente. Primeiro se deu um basta no FMI, de quem o Brasil agora é credor; depois se passou a olhar o mundo todo e não apenas a Europa, o Japão e os EUA. Em função disto, sem abandonar as relações com estes Países, o Brasil ampliou seus negócios com a periferia do mundo: América Latina, África, Oriente Médio e leste europeu e também com os emergentes (China, Rússia, índia e África do Sul), etc. Com Cuba, por exemplo, o comércio exterior do Brasil aumentou 4 vezes na última década, chegando a 450 milhões de dólares por ano.

Ao ajudar a construir o porto de Mariel, a política externa do Brasil independente faz uma correta aposta no aumento da integração com o Caribe. Junto com o porto será instalada uma Zona Especial de Desenvolvimento, similar às implantadas pela China com grande sucesso. Nesta zona, empresas estrangeiras poderão se instalar em Cuba e de lá se capacitar para ocupar espaço comercial no Caribe. É o Brasil independente ocupando um espaço deixado pelo insano embargo econômico dos EUA a Cuba. Quando este embargo acabar, as empresas brasileiras instaladas em Cuba estarão a apenas 150 km do maior mercado consumidor do mundo: os Estados Unidos.

Isto é ser objetivo e é ter coragem de defender o interesse nacional; coisa que as elites passadas, sempre de costas para o Brasil – embasbacadas com as delícias de Paris, Londres e Nova York – não tinham coragem de fazer. Uma política externa independente e vigorosa é fundamental para o desenvolvimento de qualquer País: ela é um instrumento de abertura de mercados externos para produtos, serviços, tecnologias e também para capital financeiro. Os países que hoje são ricos jamais hesitaram em usar a política externa para abrir mercados e para isto utilizaram diversos instrumentos: empréstimos; doações; incentivos à internacionalização de suas empresas; cooperação técnica e tecnológica; e até recorreram à guerra, nos momentos em que só a diplomacia não era suficiente para garantir seus interesses.

Na crítica ideológica e politiqueira que ganhou espaço na grande mídia aparece ainda uma falsa contradição entre o estado dos portos brasileiros e o financiamento às empresas que construíram o porto de Mariel. Para isto, generalizam as dificuldades de acesso dos caminhões a alguns portos e afirmam que todos os portos do Brasil estão sucateados. Se isto é verdade, como conseguem dar vazão à crescente movimentação de cargas? Isto mesmo; a movimentação de cargas nos portos do Brasil aumentou de 520 milhões de toneladas/ano em 2002 para 886 milhões de toneladas em 2013, conforme dados da ANTAQ.

Como um País com portos sucateados, segundo a versão da Globo e do SBT, consegue aumentar vigorosamente o comércio exterior? Os dados do Banco Central indicam forte evolução do comércio externo do Brasil (exportações + importações, em bilhões de dólares): 2002 – 107,9 bi; 2010 – 383,9 bi; 2013 – 481,8 bi. Ou seja, o Brasil de Lula e Dilma, o da política externa independente, mais do que quadruplicou o valor do comércio externo.

Mesmo assim, os saudosos do neoliberalismo e detentores do monopólio da mídia ainda têm coragem de dizer que todos os portos brasileiros estão sucateados. Ora, é claro que existem tensões nos portos. Trata-se, todavia, da pressão de um País que, nos governos do PT, aprendeu a crescer. Em razão disto é preciso ampliar ainda mais a capacidade dos portos e, principalmente, melhorar o acesso a eles, resolvendo os gargalos que dificultam o tráfego de caminhões e trens. Para isto, investimentos já estão sendo feitos. Por isto mesmo a presidente Dilma lançou, em 2012, o Programa de Investimento em Logística, que destina 54,6 bilhões de reais aos Portos do Brasil até 2017.

Então é bola pra frente. Enquanto os saudosos de privilégios mentem, os que acreditam no Brasil trabalham. O próximo grande lance será a Copa do Mundo. E eu sou muito mais Brasil.
Merlong Solano Nogueira
Professor da UFPI, Dep Estadual do PT

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