O Piauí possui abundantes recursos naturais, abriga 1,7% da população brasileira, mas só produziu 0,6% do Produto Interno Bruto(PIB) do País em 2008. Para completar o quadro há que se considerar que a pouca riqueza produzida no Estado, configurando a menor renda por pessoa entre os estados brasileiros, é extremamente concentrada. Não é à toa que cerca de metade das famílias piauienses estão enquadradas nos critérios de acesso aos benefícios do Bolsa Família.

Embora seja difícil de acreditar o quadro acima delineado já foi mais negativo, pelo menos a partir dos interesses da maioria da população. Em 1970 a participação do Piauí no PIB nacional ficou em 0,4%; a distância entre a renda por pessoa no PI e a média nacional era ainda maior; o acesso ao sistema educacional não estava ao alcance da maioria das crianças e a esperança de vida era bem menor. Isto, todavia, não deve ser tomado como consolo. Apenas deve ser considerado como indicador de que o atraso estrutural sofreu alterações ao longo do tempo, o que demonstra a possibilidade de sua superação.

O Índice de Desenvolvimento Humano(IDH) mostra bem a natureza do problema e sua evolução: 1970 – 0,267; 1980 – 0,385; 1991 – 0.566; 2000 – 0,656 e 2005 – 0,703. O IDH varia de 0,0 a 1,0. Até 0,500 é IDH baixo, típico de áreas muito pobres; de 0,500 a 0,799 o IDH é considerado médio, situação em que já ocorreram muitos avanços, mas a população pobre continua com muitos problemas que afetam sua qualidade de vida; acima de 0,800 é considerando IDH alto, típico dos países mais desenvolvidos, especialmente daqueles onde a qualidade de vida da população é melhor, com acesso a bom nível de renda, de educação, de saúde e elevada esperança de vida.

Os dados evidenciam que o Piauí chegou quase ao final do século XX com IDH de padrão africano, continente que até hoje não se recuperou das mazelas da colonização européia. A melhora sistemática do IDH se iniciou na década de 1990, já como efeito da implantação dos sistemas de saúde e de educação decorrentes da Constituição de 1988. Justamente nas áreas de educação e de saúde é que o Piauí apresenta os melhores resultados no IDH; enquanto a renda continua a puxar o índice para baixo. A despeito do peso negativo da economia, as estimativas indicam nova melhoria do IDH entre 2005 e 2010.

A continuidade e aceleração do desenvolvimento exige esforço articulado entre governo e iniciativa privada. O fundamental é elevar o nível de investimento de modo a aproveitar as janelas de oportunidades abertas pela interiorização da economia brasileira e pelo apoio do governo federal à redução das desigualdades regionais e sociais. Educação e infra-estrutura básica são setores vitais. Praticamente universalizado o acesso ao ensino básico, a hora é de investir na qualidade por meio da escola de tempo integral e também de ampliar o acesso à educação profissional. A conquista de maior volume de infra-estrutura social e econômica básica, que exige vultosos recursos, demanda projetos tecnicamente fundamentados, econômica e ambientalmente sustentados, bem como melhor capacidade de definição de prioridades e mais ativa postura de unidade política na defesa do Piauí.

Merlong Solano Nogueira
Professor da UFPI, Dep Estadual e Sec das Cidades

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