No momento em que a Assembléia Legislativa (ALEPI) debate o Projeto de Lei do Orçamento Geral (OGE) do Piauí para o ano de 2011 é preciso assumir verdades simples, mas irrefutáveis. A primeira delas diz respeito ao fato de que a Assembléia não está discutindo o orçamento de um Estado rico; bem ao contrário; o orçamento que o Piauí está executando neste ano de 2010 é um dos menores do País.

PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ORÇAMENTOS DAS ASSEMBLÉIAS NOS ORÇAMENTOS GERAIS DOS ESTADOS – 2010 *

Valores em Reais
ESTADO ORÇAMENTO GERAL (A) ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA (B) B/A
Roraima – RR 1.850.027.087 109.347.562 5,9%
Rondônia – RO 4.968.389.690 131.690.812 2,7%
Piauí – PI 5.120.917.579 162.005.623 3,2%
Sergipe – SE 5.337.445.520 139.970.000 2,6%
Tocantins – TO 5.723.932.129 93.479.968 1,6%
Alagoas – AL 5.739.556.280 113.400.000 2,0%
Paraíba – PB 5.776.222.000 171.385.160 3,0%
Rio Grande do Norte – RN 7.787.121.000 170.260.000 2,2%
Amazonas – AM 8.297.166.000 138.772.000 1,7%
Maranhão – MA 8.449.347.096 147.185.584 1,7%
Mato Grosso – MT 8.857.579.918 197.657.374 2,2%
Mato Grosso do Sul – MS 8.866.223.400 181.610.700 2,0%
Pará – PA 11.237.635.586 255.743.822 2,3%
Espírito Santo – ES 11.652.280.883 117.419.595 1,0%
Santa Catarina – SC 13.447.051.345 329.732.691 2,5%
Goiás – GO 13.495.680.000 304.275.000 2,3%
Ceará – CE 13.805.307.577 261.637.446 1,9%
Pernambuco – PE 20.190.155.000 267.397.000 1,3%
Bahia – BA 23.275.223.228 266.353.105 1,1%
Paraná – PR 27.611.847.430 304.881.520 1,1%
Rio Grande do Sul –RS 32.931.434.033 343.089.504 1,0%
Minas Gerais – MG 41.113.957.207 917.121.340 2,2%
Rio de Janeiro – RJ 47.403.409.302 530.454.400 1,1%
São Paulo – SP 125.707.000.000 681.000.000 0,5%
Fonte: Orçamentos Gerais dos Estados, conforme disponibilizados pelas Assembléias na internet.
* Em razão da ausência destes dados na internet, a tabela não inclui referências ao Acre, Amapá e Distrito Federal.

O quadro acima demonstra que, do ponto de vista relativo, o peso  do orçamento da ALEPI só é menor do que o da Assembléia de Roraima, que consome 5,9% dos recursos do Estado. Mesmo em relação ao valor absoluto, fica claro o valor excessivo do orçamento da ALEPI. De fato, os dados demonstram que em diversos Estados, que têm arrecadação maior do que o Piauí, as assembléias gastam menos. São eles: TO, AL, ES,  AM, SE e MA.

Para demonstrar a importância de ajustar os orçamentos à realidade financeira dos Estados, lembro que se a Assembléia de São Paulo praticasse o mesmo percentual orçamentário que a do Piauí, seu orçamento seria mais de 4 bilhões. SP está dando, neste caso, um bom exemplo; enquanto MG e o PI, dentre outros, estão dando mau exemplo. Na medida em que a economia cresceu, SP reduziu a participação percentual de sua Assembléia no OGE. Esta  prática teve como efeito liberar recursos para os demais poderes. Já MG  preferiu o caminho de engordar o orçamento da Assembléia: como explicar que MG, que tem um OGE três vezes menor do que o de SP, gaste bem mais com sua assembléia do que os paulistas? Do mesmo modo, como explicar que o PI gaste com a Assembléia mais do o ES?

Esta discussão remete à necessidade de melhor definição de prioridades na alocação dos recursos orçamentários. É óbvio que o Poder Executivo, o Judiciário e Ministério Público necessitam de mais recursos, pois pela natureza de suas atribuições atuam em todo o Estado. A responsabilidade da ALEPI é fazer um orçamento que reforce o investimento em áreas estratégicas. Como cidadão e deputado eleito não passa pela minha cabeça a sandice de que a Assembléia deve ser frágil. Não, todo poder precisa funcionar. Todavia, a Assembléia deve ser do tamanho da natureza das funções constitucionais e das possibilidades do tesouro do Estado.

O caminho para a superação do imbróglio, que a falta de previdência e a visão do poder como fonte de privilégio geraram, não é a inviabilização da Assembléia e sim o seu gradual ajuste às necessidades do Piauí. Assim é preciso romper com esta idéia de aumento linear do orçamento dos poderes, pois ela equivale a abrir mão da capacidade e da necessidade de definir prioridades. Proponho pois, em lugar de 9,8%, um reajuste do orçamento da Assembléia em 2%.

Teresina, Nov de 2010
Merlong Solano Nogueira
Dep. Estadual eleito – PT

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